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Será que o Porto de Santos é internacional?


O primeiro case de internacionalização de um porto brasileiro

A carga vem e vai para mais de 600 portos em 125 países. Alguns terminais são operados por grandes players globais. A maioria dos armadores (empresas de navios) são estrangeiras. Mas será que isso é suficiente para que Santos seja de fato internacional?

Essa foi a primeira pergunta que fiz ao assumir como chefe de assuntos internacionais da presidência da Autoridade Portuária de Santos (Santos Port Authority – SPA), a convite do Casemiro Tércio Carvalho, um líder que admiro muito em Agosto de 2019. Neste artigo faço um relato da minha experiência de 10 meses para internacionalizar a SPA.

Preciso destacar que neste artigo falaremos da jornada da SPA em seu processo de internacionalização e ficam fora do escopo abordar demais organizações presentes no porto, cada qual com seu estágio de presença local ou internacional.

Mas o que seria internacionalização para Santos? Abrir escritórios do exterior? Adquirir portos em outras partes do mundo? Prospectar cargas internacionais para que entrem por Santos? Diversificar fontes de receita para outras atividades além da movimentação de carga? Para desenhar esta estratégia de internacionalização parti para o primeiro exercício:


Benchmarking internacional


Como os maiores portos do mundo trabalham a agenda internacional? Rotterdam, Dubai, Miami, Cingapura e outros. Os portos do mundo usam internacionalização como uma decisão estratégica da companhia para superar desafios complexos de resolver no âmbito doméstico. Faz muito sentido, não?

Rotterdam tem uma spin off chamada “Port Rotterdam International” que faz atração de investimentos internacionais para o Porto, mas que também vende consultoria, soluções de educação, gerencia os nove escritórios internacionais e compra participação em portos do mundo (inclusive no Brasil). Portanto, pelas limitações do mercado interno dos Países Baixos e até da União Europeia, a diversificação das atividades econômicas, além da movimentação de carga, permite que a receita continue crescendo e garanta a posição de liderança global.

Mas não precisa ser gigante para internacionalizar no mundo dos Portos. O Porto de Abu Dhabi assumiu a estratégia de adquirir outros portos/terminais no mundo para continuar crescendo, já que tem uma limitação grande de mercado interno (Emirados Árabes Unidos).

Já o Porto de Miami optou por construir o posicionamento global de marca como a “capital global de cruzeiros”. Essa projeção de marca faz parte de todos os materiais de comunicação do Porto de Miami (que também movimenta containers). Miami é a principal porta de entrada para produtos Latino Americanos nos Estados Unidos.


 

O que é o Porto de Santos

A Santos Port Authority é uma empresa pública federal com 128 anos de vida. A empresa que já teve 17.000 funcionários que faziam toda a operação de movimentação de carga, hoje conta com um pouco mais de 1.000 colaboradores. Eles garantem o funcionamento da operação e interagem com mais de 40 terminais em 16KMs de extensão que movimentam todo o tipo de carga: commodities, containers, líquidos e ro-ro (veículos sobre rodas de todo tipo).

A estrutura por água e por terra é impressionante. Todos os investidores internacionais que visitaram o Porto não acreditavam na robusta estrutura de ponta que temos no Brasil. Alguns dos terminais são os maiores da América Latina. E por que pouca gente sabe? Como fazer para que o mundo saiba quem somos aqui em Santos?


 

O desenho da estratégia de internacionalização

Criar o posicionamento global do porto de Santos precisava sanar diversos pilares de desconexão: comunicação e atendimento, protagonismo global e negócios internacionais.

Os pilares precisavam atacar o principal desafio: assimetria de informação. Existem informações sobre o Porto que só ficam em Santos, outras que chegam a São Paulo, outras a Brasília, e o que supera as barreiras continentais do nosso Brasil é a ponta do iceberg. Muitas vezes em forma de ruído, quando na realidade somos um porto pujante, competitivo, que deve atuar lado a lado dos maiores portos do mundo e ser lembrado como tal: um global player.


 

Comunicação e atendimento

Para quebrar as barreiras de comunicação foi preciso produzir mais material em inglês. Em parceria com o time de comunicação e tecnologia, foi feita a primeira versão do website em inglês da SPA com conteúdo simples e objetivo para que o público internacional. Criou-se um factsheet consolidando em 1 página, um overview do porto com dados em inglês e espanhol. A apresentação para investidores internacionais sobre o Porto indicava as próximas oportunidades de arrendamento para que eles possam se planejar para investir e acompanhar o status das licitações do PPI (Programa de Parcerias e Investimentos). A comunicação mirava no longo prazo: a privatização. Atratividade, previsibilidade e redução de risco são palavras-chave para investidores internacionais em infraestrutura.

Os materiais de comunicação eram utilizados para atendimento ao público internacional. Criou-se um canal de comunicação claro com Embaixadas, Consulados, Câmaras de Comércio, Representantes de Portos Internacionais no Brasil, órgãos governamentais, organizações internacionais. O objetivo desta rede de stakeholders permitia conectar o público internacional a quem fosse de interesse em Santos. Esse trabalho de articulação internacional foi essencial para atualizar algumas fotos do passado e estabelecer uma imagem positiva de futuro. A recepção de 1 delegação internacional por semana num novo roteiro para visitantes nacionais e internacionais causou boa impressão. Cada detalhe faz toda a diferença.


 

Protagonismo global

Como conectar a SPA às grandes redes internacionais de Portos do mundo? A pesquisa apontou para 5 organizações: International Association of Ports and Harbours (IAPH), American Association of Port Authorities (AAPA), The Worldwide Network of Port Cities (AIVP), The World Association for Waterborne Transport Infrastructure (PIANC) e International Harbour Masters Association (IHMA). Das 5 organizações, a SPA tornou-se membro das duas primeiras (IAPH e AAPA) com a participação ativa de funcionários em eventos, fóruns e envio de notícias contribuindo para que o time fosse exposto à conexões especializadas de alta qualidade e ajudasse na criação de um global mindset.

A agenda de missões internacionais também foi intensa até o início da pandemia. A exposição de funcionários a eventos internacionais permitiu que novos contatos fossem feitos para investimentos, tecnologia e infraestrutura. O calendário de 2020 previa que a SPA participasse de ao menos 1 evento internacional por mês nas diversas agendas estratégicas em tecnologia, negócios, infraestrutura e operações. Por conta da pandemia, as últimas missões foram realizadas em início de março de 2020 (2 somente neste ano). O restante da programação de 2020 foi postergada para 2021 e algo deve seguir no calendário da SPA.

Para consolidar o protagonismo global da SPA, Santos foi aprovado pela AAPA para receber o XXX Congresso Latino Americano de Portos. O evento é realizado em 2022 e deve consolidar o posicionamento global da marca, logo antes da privatização.


 

Negócios internacionais

“Quem já está aqui? E quem não está aqui e que deveria estar?” Para responder essas perguntas foi feita pesquisa de mercado internacional para mapear potenciais investidores em todas as etapas da cadeia do Porto. Lembrem, aqui a varredura foi global. Mapeamos mais de 20 terminais com ownership internacional, prestadores de serviço nacionais e internacionais, armadores, transportadores, investidores em soluções de logística integrada presentes em Santos, mas muitos não estão. A competitividade global eleva a qualidade dos serviços prestados e permite o fortalecimento da cadeia como um todo.

Para trazer visibilidade internacional para as oportunidades de investimento no Porto, foi realizado um trabalho de prospecção individualizado com investidores internacionais e permitiram posicionar o porto de Santos como um ativo atrativo. Agora cada empresa segue com sua estratégia e estuda a melhor forma de entrada. O próximo passo seria trabalhar consistentemente a desestatização.


 

Respondendo a pergunta do título do artigo, ser um Porto internacional é muito mais do que movimentar carga para diversos portos do mundo. É exercer todo o seu poder para projetá-lo e assim catalisar mais oportunidades de negócios e cooperação. É trazer para Santos as melhores práticas do mundo e colaborar para construção de novas normas globais para o setor.

Neste artigo, relatei minha experiência como a primeira chefe de assuntos internacionais da SPA. O Porto de Santos é maior que a Autoridade Portuária e para que o processo de internacionalização seja de fato bem sucedido um movimento deve seguir com a atuação ativa das empresas locais para projeção internacional da marca.

Santos tem tudo para ser reconhecido pelo mundo como um global player. Isso exige consistência e dedicação. Os primeiros passos foram dados. Só posso agradecer por ter tido a oportunidade de iniciar a internacionalização do maior Porto da América Latina. Que o farol acesso assim permaneça para que o mundo navegue até Santos e saiba que aqui, não somente as cargas se encontram, mas o mercado de Portos e as pessoas também.

#tevejonomundo





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